domingo, 13 de outubro de 2013

A Oração

Nota: AT = Antigo Testamento ; NT = Novo Testamento
Por que Deus quer que nós oremos?
Como podemos orar de modo eficaz?

1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA

O caráter de Deus e o seu relacionamento com o mundo, conforme discussão nos capítulos anteriores, naturalmente conduzem à consideração da doutrina da oração. A oração pode ser definida da seguinte maneira: A oração é nossa comunicação pessoal com Deus.

Essa definição é muito ampla. O que chamamos “oração” inclui orações de pedidos por nós mesmos e por outros (às vezes chamadas orações de petição ou intercessão), confissão de pecado, adoração, louvor e ação de graças.

A. Por que Deus quer que oremos?
A oração não foi instituída para que Deus pudesse descobrir nossas necessidades, pois Jesus nos diz: “porque o [...] Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem” (Mt 6.8). Deus quer que oremos porque a oração expressa nossa confiança nele e é um meio pelo qual nossa confiança nele pode aumentar. De fato, talvez a ênfase primária do ensino bíblico sobre a oração é que devemos orar com fé, que significa confiança ou dependência de Deus. Deus, como nosso Criador, se deleita no fato de que suas criaturas confiam nele, pois a atitude de dependência é a forma mais apropriada para expressar o relacionamento entre o Criador e a criatura.

As primeiras palavras da oração que o Senhor nos ensinou, ”Pai nosso, que estás nos céus!” (Mt 6.9), admitem nossa dependência de Deus como o Pai sábio e amoroso e também reconhecem que, de seu trono celestial, ele governa todas as coisas. Muitas vezes a Escritura enfatiza nossa necessidade de confiar em Deus quando oramos. Por exemplo, Jesus compara nossa oração ao filho que pede a seu pai um peixe e um ovo (Lc 11.9-12) e a seguir conclui: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir?” (Lc 11.13). Como os filhos olham para seus pais esperando a providência deles, assim Deus espera que olhemos para ele em oração. Visto que Deus é nosso Pai, devemos pedir a ele com fé. Jesus diz: “E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão” (Mt 21.22; cf. Mc 11.24; Tg 1.6-8; 5.14,15).

Mas Deus não quer somente que confiemos nele. Ele também quer que o amemos e tenhamos comunhão com ele. Essa, então, é a segunda razão pela qual Deus quer que oremos.

A oração nos traz à comunhão mais profunda com Deus, e ele nos ama e tem prazer em nossa comunhão com ele. Quando oramos verdadeiramente, nós como pessoas, na totalidade de nosso caráter, estamos nos relacionando com Deus como uma pessoa, na totalidade do seu caráter. Assim, tudo o que pensamos ou sentimos a respeito de Deus é expresso em nossa oração. É natural que Deus tenha prazer em tal atividade e dê tanta ênfase a ela e ao relacionamento conosco.

A terceira razão pela qual Deus quer que oremos é que na oração Deus permite que nós, como criaturas, fiquemos envolvidos em atividades que são eternamente importantes. Quando oramos, o avanço do Reino se processa. Desse modo, a oração nos dá oportunidade de nos envolvermos de modo significativo na obra do Reino e, assim, dá expressão à nossa espantosa importância como criaturas feitas à imagem de Deus.
A quarta razão pela qual Deus quer que oremos é que na oração damos glória a Deus. A oração em humilde dependência de Deus indica que estamos genuinamente convencidos de sua sabedoria, amor, bondade e poder.

B. A eficácia da oração

Como exatamente a oração funciona? Além de nos fazer bem, será que a oração também afeta Deus e o mundo?

1. A oração muitas vezes muda o modo de Deus agir.
Tiago nos diz: “Não têm, porque não pedem” (Tg 4.2). Ele sugere que a falha em pedir priva-nos do que Deus, de outra forma, nos teria dado. Nós oramos e Deus responde. Jesus também diz: “Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta” (Lc 11.9,10). Ele faz a conexão clara entre procurar coisas de Deus e recebê-las. Quando pedimos, Deus responde.

Isso acontece muitas vezes no AT. O Senhor declarou a Moisés que ele haveria de destruir o povo de Israel por causa do seu pecado (Ex 32.9,10): “Moisés, porém, suplicou ao SENHOR, o seu Deus clamando: ‘O SENHOR [...] Arrepende-te do fogo da tua ira! Tem piedade, e não tragas este mal sobre o teu povo...”’ (Lx 32.11,12). Então lemos: “E sucedeu que o SENHOR arrependeu-se do mal que ameaçara trazer sobre o povo” (Êx 32.14). Moisés orou, e Deus respondeu. Quando Deus ameaça punir seu povo por seus pecados, ele declara: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra” (2Cr 7.14). Quando o povo de Deus orar (com humildade e arrependimento), então ele ouvirá e os perdoará. As orações do povo de Deus claramente afetam o modo como ele age. De modo semelhante, “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (lJo 1.9). Nós confessamos, e então Deus perdoa.

Se estivermos realmente convencidos de que a oração muitas vezes muda o modo de Deus agir e que Deus realmente produz notáveis mudanças no mundo em resposta à oração (como a Escritura repetidamente nos diz que ele faz), deveremos orar muito mais do que oramos. Se oramos pouco, é provavelmente porque não cremos realmente que a oração realiza muita coisa.
2. A oração eficaz torna-se possível por nosso mediador, Jesus Cristo.

Porque somos pecaminosos e Deus é santo, não temos qualquer direito de, por nós próprios, entrar na presença de Deus. Precisamos de um mediador para estar entre nós e Deus e para colocar-nos em sua presença. A Escritura claramente ensina: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus” (lTm 2.5).
Mas se Jesus é somente mediador entre Deus e o homem, Deus vai ouvir as orações dos descrentes, os que não confiam em Jesus? A resposta depende do que entendemos por “ouvir”. Visto que Deus é onisciente, ele sempre ouve no sentido de que está consciente das orações feitas pelos descrentes que não vêm a ele por meio de Cristo. Deus pode até, de vez em quando, responder às orações deles por causa de sua misericórdia e no desejo de trazê-los à salvação por meio de Cristo. Contudo, em lugar algum Deus prometeu responder às orações dos descrentes. As únicas orações que ele prometeu “ouvir”, no sentido de escutar com simpatia e de comprometer-se a responder quando elas são feitas de acordo com a sua vontade, são as orações dos cristãos feitas por meio do mediador, Jesus Cristo (cf.Jo 14.6).

Então, o que dizer a respeito dos crentes do AT? Como poderiam eles vir a Deus por meio de Jesus, o mediador? A resposta é que a obra de Jesus como nosso mediador foi representada em sombras pelo sistema sacrificial e pelas ofertas feitas pelos sacerdotes no templo (Hb 7.23-28; 8.1-6; 9.1-14 etc.). Contudo, não havia nenhum mérito salvador no sistema de sacrifícios (Hb 10.1-4). Por meio do sistema sacrificial, os crentes foram aceitos por Deus somente com base na obra futura de Cristo representada em sombras por aquele sistema (Rm 3.23-26).

A atividade de Jesus como mediador é vista especificamente em sua obra como sacerdote: Ele é nosso “grande sumo sacerdote que adentrou os céus”, aquele que “passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (Hb 4.14,15).

Como beneficiários da nova aliança, não precisamos permanecer “fora do templo”, como todos os crentes, exceto os sacerdotes, de quem se exigiu isso sob a antiga aliança. Nem precisamos permanecer fora do “Santo dos Santos” (Hb 9.3), o lugar mais interior do templo, onde o próprio Deus estava entronizado acima da arca da aliança e onde somente o sumo sacerdote poderia entrar, apenas uma vez ao ano. Mas agora, visto que Cristo morreu como o nosso Sumo Sacerdote mediador (Hb 7.26,27), ele ganhou para nós intrepidez e acesso à verdadeira presença de Deus. ”Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus” (Hb 10.19), isto é, no Santo Lugar e no Santo dos Santos, a verdadeira presença do próprio Deus! A obra de mediação de Cristo dá-nos confiança para aproximar-nos de Deus em oração.
3. O que significa orar “em nome de Jesus”?
Jesus diz: “E eu farei o que vocês pedirem em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que vocês pedirem em meu nome, eu farei” (Jo 14.13,14). Ele também diz que escolheu seus discípulos “a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome” (Jo 15.16). De modo semelhante, ele diz: “Eu lhes asseguro que meu Pai lhes dará tudo o que pedirem em meu nome [...] Peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa” (Jo 16.23,24; cf. Ef 5.20). Mas o que isso significa?

É claro que isso não significa simplesmente a adição da cláusula ”em nome de Jesus” após cada oração, porque Jesus não disse: “Se você pedir alguma coisa e acrescentar as palavras em nome de Jesus’, após a sua oração, então eu farei”. Jesus não está falando meramente a respeito de adicionar certas palavras como se elas fossem uma espécie de fórmula mágica que daria poder às nossas orações. De fato, nenhuma das orações registradas na Escritura tem a frase “em nome de Jesus” no final delas (v. Mt 6.9-13; At 1.24,25; 4.24-30; 7.59; 9.13,14; 10. 14 ;Ap 6.10; 22.20).

Vir em nome de alguém significa que outra pessoa nos autorizou a vir com a sua autoridade, não com a nossa. Quando Pedro ordena ao homem coxo: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande” (At 3.6), ele está apelando para a autoridade de Jesus, não para a própria autoridade. Quando os membros do Sinédrio perguntaram aos discípulos: “Com que poder ou em nome de quem vocês fizeram isso?” (At 4.7), eles estavam perguntando: “Com a autoridade de quem vocês fizeram isso?”. Quando Paulo repreende um espírito imundo “em nome de Jesus Cristo” (At 16.18), ele torna claro que está fazendo isso com a autoridade de Jesus, não com a sua. Quando Paulo pronuncia juízo “em nome de nosso Senhor Jesus” (1 Co 5.4) sobre um membro da igreja que é culpado de imoralidade, está agindo com a autoridade do Senhor Jesus. Orar em nome de Jesus é, portanto, oração feita com autorização dele com base em sua obra mediadora por nós.

Em sentido mais amplo, o “nome” de uma pessoa no mundo antigo representava a própria pessoa e, portanto, tudo de seu caráter. Ter um “bom nome” (Pv 22.1, RA; Ec 7.1) era possuir boa reputação. Assim, o nome de Jesus representa tudo o que ele é, seu caráter total. Isso significa que orar “em nome de Jesus” não é somente orar com a sua autoridade, mas também orar de modo que seja condizente com o seu caráter, que verdadeiramente o represente e reflita sua maneira de viver e sua própria vontade santa. Orar em nome de Jesus também significa orar de acordo com o seu caráter. Nesse sentido, orar em nome de Jesus se aproxima da idéia de orar de acordo com a sua ”vontade” (lJo 5.14,15).

Isso significa que é errado acrescentar “em nome de Jesus” no final de nossas orações?
Certamente não é errado, contanto que entendamos o significado dessas palavras e que não é necessário pronunciá-las. Pode haver algum perigo, contudo, se acrescentamos essa frase a cada oração pública ou particular que fazemos, pois logo ela se tornará para as pessoas simplesmente a fórmula à qual atribuímos muito pouco significado se a pronunciamos sem pensar seriamente sobre ela. Ela pode ser vista, ao menos por crentes mais jovens, como uma espécie de fórmula mágica que torna a oração mais eficaz. Para evitar tal entendimento errôneo, provavelmente seria sábio decidir não usar essa fórmula muitas vezes e expressar o mesmo pensamento em outras palavras ou simplesmente na abordagem e atitude que temos para com a oração em geral. Por exemplo, as orações poderiam começar assim: “Pai, vimos diante de ti na autoridade do Senhor Jesus, teu Filho” ou “Pai, não vimos com méritos próprios, mas nos méritos de Jesus Cristo, que nos convidou a comparecer diante de ti...”, ou “Pai, te agradecemos por perdoares os nossos pecados e dares acesso ao teu trono pela obra de Jesus Cristo, teu Filho...”. Em outras ocasiões mesmo esses reconhecimentos formais não devem ser considerados necessários, à medida que nosso coração perceba continuamente que é nosso Salvador que nos capacita a orar ao Pai. A oração genuína é conversa com a pessoa a quem conhecemos bem e que nos conhece. Tal conversa genuína entre pessoas que se conhecem mutuamente nunca depende do uso de certas fórmulas ou palavras exigidas, mas é questão de sinceridade em nossa linguagem e em nosso coração, uma questão de atitudes corretas e de condição de nosso espírito.
4. Devemos orar a Jesus e ao Espírito Santo?
Um levantamento das orações do NT indica que elas não são usualmente dirigidas a Deus Filho nem ao Espírito, mas a Deus Pai. Todavia, a mera verificação de tais orações pode ser ilusória, pois a maioria das orações que temos registradas no NT é do próprio Jesus, que constantemente orou a Deus Pai, mas naturalmente não orou a si próprio como Deus Filho. Além disso, no AT, a natureza trinitária de Deus não foi revelada claramente, e não é de surpreender que não encontremos muita evidência de oração dirigida diretamente a Deus Filho ou a Deus Espírito antes do tempo de Cristo.
Embora haja um padrão claro de oração diretamente dirigida a Deus Pai por intermédio do Filho (Mt 6.9; Jo 16.23; Ef 5.20), há outras indicações de que a oração dirigida diretamente a Jesus Cristo também é apropriada. O fato de que foi o próprio Jesus que escolheu todos os outros apóstolos sugere que a oração em Atos 1.24 seja dirigida a ele: “Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois tens escolhido”. O agonizante Estevão ora: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59). A conversa entre Ananias e “o Senhor” em Atos 9.10-16 é com Jesus, porque no versículo 17 Ananias diz a Saulo: “o Senhor Jesus enviou-me para que você volte a ver...’. A oração “Vem, Senhor” [Maranatha] (lCo 16.22) é dirigida a Jesus, como a oração registrada em Apocalipse 22.20: “Vem, Senhor Jesus!”. E Paulo também orou ao “Senhor” em 2Coríntios 12.8 a respeito do seu espinho na carne.’

Além disso, o fato de que Jesus é “sumo sacerdote misericordioso e fiel” (Hb 2.17) que é capaz de “compadecer-se das nossas fraquezas” (Hb 4.15) é encorajamento para virmos ousadamente perante o “trono da graça” em oração “a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4.16). Esses versículos devem incentivar-nos a vir diretamente a Jesus em oração, esperando que ele simpatize com as nossas fraquezas à medida que oramos.

Há, portanto, autorização escriturística suficiente para encorajar-nos a orar não somente a Deus Pai (que parece ser o padrão primário e certamente segue o exemplo que Jesus nos ensinou na oração do Senhor), mas também a orar diretamente a Deus Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Ambos os caminhos estão corretos, e, assim, podemos orar tanto ao Pai quanto ao Filho.

Mas devemos orar ao Espírito Santo? Embora nenhuma oração diretamente dirigida ao Espírito Santo tenha sido registrada no NT, não há nada que proíba tal oração, porque o Espírito Santo, semelhantemente ao Pai e ao Filho, é plenamente Deus e, portanto, é digno de oração e poderoso para responder a nossas orações. Ele também se relaciona conosco de modo pessoal, já que é o “Conselheiro” ou “Consolador” (Jo 14.16,26). Os crentes “o conhecem” [‘O nome “Senhor” (kyrios, no grego) é usado em Atos e nas cartas para referir-se especialmente ao Senhor Jesus Cristo.] (Jo 14.17), e ele os ensina (cf. Jo 14.26), dá testemunho a nós de que somos filhos de Deus (Rm 8.16) e pode ser entristecido pelos nossos pecados (Ef 4.30).Além disso,o Espírito Santo exerce volição pessoal na distribuição dos dons espirituais, pois “todas essas coisas [os dons], porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer” (lCo 12.11). Portanto, não parece errado orar diretamente ao Espírito Santo em certas ocasiões, particularmente quando estamos lhe pedindo para fazer algo relacionado a áreas especiais de seu ministério e responsabilidade. Mas esse não é o padrão do NT e não deveria tornar-se a ênfase dominante em nossa vida de oração.

C. Algumas considerações importantes sobre a oração eficaz
A Escritura indica uma gama de considerações que precisam ser levadas em conta se vamos oferecer a espécie de oração que Deus deseja de nós.

1. Orar de acordo com a vontade de Deus.

João nos diz: “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, ele nos ouvirá. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos o que dele pedimos” (lJo 5.14,15). Jesus nos ensina a orar: “seja feita a tua vontade” (Mt 6.10), e ele próprio nos deu o exemplo, quando no jardim do Getsêmani orou: ”... não seja como eu quero, mas sim como tu queres” (Mt 26.39).

Mas como sabemos qual é a vontade de Deus quando oramos? Se o assunto sobre o qual estamos orando tem o respaldo de uma passagem da Escritura na qual Deus nos dá uma ordem ou uma declaração direta da sua vontade, então a resposta a essa pergunta é fácil: sua vontade é que sua Palavra seja obedecida e que seus mandamentos sejam observados. Devemos buscar a perfeita obediência à vontade moral de Deus na terra, de modo que a vontade de Deus possa ser feita “assim na terra como no céu” (Mt 6.10). Por essa razão, o conhecimento da Escritura é tremenda ajuda na oração, capacitando-nos a seguir o padrão dos primeiros cristãos, que citavam a Escritura enquanto oravam (v.At 4.25,26). A leitura e a memorização regular da Escritura durante anos vão aumentar a profundidade, o poder e a sabedoria das orações do cristão. Jesus nos encoraja a ter suas palavras dentro de nós enquanto oramos, pois ele diz: “Se vocês permanecerem em mim,e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (Jo 15.7). ‘Com respeito à adoração do Espírito Santo, a totalidade da igreja — católicos romanos, ortodoxos e protestantes — tem unanimemente concordado que ela é apropriada, como afirmado no Credo niceno, elaborado em 381 d.C.: ”E cremos no Espírito Santo, Senhor, Doador da Vida, que procede do Pai e do Filho,o qual com o Pai e o Filho juntamente é adorado e glorificado”. De modo semelhante, a Confissão de fé de Westminster diz: “O culto religioso deve ser prestado a Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo — e só a ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura” (XXI.2). Muitos hinos em uso há séculos dão Louvor ao Espírito Santo, tais como o Gloria Patri (“Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito, como era no princípio, agora e para sempre, por todos os séculos. Amém!”) ou como a doxologia (“A Deus, supremo benfeitor, anjos e homens dêem Louvor; a Deus, o Filho, a Deus Pai, e a Deus, Espírito, glória dai. Amém”). Essa prática é baseada na convicção de que Deus é digno de adoração, e como o Espírito Santo é plenamente Deus, ele é digno de adoração. Tais palavras de louvor são uma espécie de oração ao Espírito Santo, e, se elas são apropriadas, parece não haver razão para pensar que outras espécies de oração ao Espírito Santo não sejam apropriadas.

Devemos ter grande confiança em que Deus vai responder a nossas orações quando lhe pedirmos algo que está de acordo com alguma promessa específica ou mandamento da Escritura como esse. Em tais casos, sabemos qual é a vontade de Deus, porque ele a disse para nós, e simplesmente precisamos orar crendo que ele haverá de responder.
Contudo, há muitas outras situações na vida em que não sabemos qual é a vontade de Deus. Podemos não ter certeza de qual ela seja porque nessas situações não se aplica nenhuma promessa ou mandamento da Escritura, como, por exemplo, se é a vontade de Deus que aceitemos o emprego para o qual nos candidatamos, ou se vamos ganhar uma competição esportiva da qual participaremos (uma oração comum entre crianças, especialmente), ou se seremos escolhidos para exercer algum cargo na igreja, e assim por diante. Em todos esses casos, tendo maior entendimento da Escritura, talvez alcancemos alguns princípios gerais dentro dos quais nossas orações possam ser feitas. Mas, de qualquer forma, muitas vezes temos de admitir que simplesmente não conhecemos qual é a vontade de Deus. Em tais casos, devemos procurar por entendimento mais profundo e, assim, orar pelo que parece melhor para nós, dando as razões ao Senhor pelas quais, em nosso entendimento da situação, estamos orando dessa maneira. Mas é sempre correto acrescentar, seja explicitamente seja ao menos na atitude de nosso coração: “No entanto, se eu estiver errado em pedir tal coisa, e se tal coisa não é agradável a ti, então faze como parece melhor aos teus olhos”, ou, de modo mais simples, “se é a tua vontade”. Algumas vezes Deus lhe dará o que você pediu. Outras vezes ele nos dará entendimento mais profundo ou uma mudança em nosso coração de modo que sejamos levados a pedir algo diferente. Em outras ocasiões ele não atenderá ao nosso pedido de forma alguma, mas simplesmente nos indicará que devemos submeter-nos à sua vontade (v. 2Co 12.9,10).

Alguns cristãos contrapõem que acrescentar a frase “se é a tua vontade” a nossas orações “destrói a nossa fé”. O que realmente acontece é que expressamos incerteza sobre se a oração que fazemos é ou não a vontade de Deus. Essa incerteza é adequada quando realmente não sabemos qual é a vontade de Deus, mas em outras ocasiões ela não é apropriada. Por exemplo, pedir a Deus por sabedoria para tomar uma decisão e a seguir dizer “se é a tua vontade me dar sabedoria aqui não é apropriado, pois seria declarar que não cremos que Deus quis dizer o que disse quando nos ordenou que pedíssemos com fé e ele atenderia o nosso pedido (“Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida”—Tg 1.5).

2. Ore com fé.
Jesus diz: “Tudo o que vocês pedirem em oração, creiam que já o receberam, e assim lhes sucederá” (Mc 11.24). Algumas tradições variam, mas o texto grego realmente diz: “creiam que já o receberam”. Jesus está certamente dizendo que, quando pedimos alguma coisa, a espécie de fé que produz resultados é a certeza estabelecida de que, na hora em que oramos pedindo algo (ou talvez após termos orado por um período de tempo), Deus concordou em atender ao nosso pedido específico. Na comunhão pessoal com Deus que acontece na oração genuína, essa espécie de fé de nossa parte poderia vir somente à medida que Deus nos dá o senso de certeza de que ele concordou com o nosso pedido. Naturalmente não podemos “estimular” esse tipo de fé genuína por meio de qualquer espécie de oração frenética ou de grande esforço emocional para conseguir crer, nem podemos forçar a nós mesmos dizendo palavras que não cremos ser verdadeiras. Isso é algo que somente Deus tem poder para nos dar e que ele pode ou não nos conceder cada vez que oramos. Essa fé que causa certeza muitas vezes acontecerá quando pedirmos a Deus por algo e, então, esperarmos pacientemente pela resposta.

De fato, Hebreus 11.1 nos diz que “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. A fé sobre a qual a Bíblia fala nunca é uma espécie de pensamento positivo ou uma esperança vaga que não causa nenhum tipo de fundamento seguro sobre o qual possamos repousar. Ao contrário, ela é confiança em uma pessoa, o próprio Deus, baseada no fato de que tomamos sua palavra e confiamos no que ele disse. Essa confiança em Deus ou dependência dele, que possui também elemento de certeza, é a fé genuína sobre a qual a Bíblia ensina.
3. Obediência.
Desde que a oração ocorre dentro de nosso relacionamento com Deus como pessoa, qualquer coisa em nossa vida que o desagrade será impedimento à oração. O salmista diz: “Se eu acalentasse o pecado no coração, o Senhor não me ouviria” (Sl 66.18). Embora o Senhor, por um lado, deteste “o sacrifício dos Ímpios”, por outro lado “a oração do justo o agrada” (Pv 15.8). Lemos novamente que “o SENHOR [...] ouve a oração dos justos” (Pv 15.29). Mas Deus não está disposto a favorecer os que rejeitam as suas leis: “Se alguém se recusa a ouvir a lei, até suas orações serão detestáveis” (Pv 28.9).
O apóstolo Pedro cita o salmo 34 para afirmar que “... os olhos do Senhor estão sobre os justos e os seus ouvidos estão atentos à sua oração, mas o rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal” (1 Pe 3.12). Visto que os versículos anteriores encorajam a boa conduta na vida diária, no falar e no afastar-se do mal para fazer o que é reto, Pedro está dizendo que Deus ouve prontamente as orações dos que vivem em obediência a ele. De modo semelhante, Pedro adverte os maridos a viver a vida comum no lar com suas esposas “de forma que não sejam interrompidas a suas orações” (lPe 3.7). De igual modo, João nos lembra da necessidade de ter a consciência limpa diante de Deus quando oramos, pois ele diz: “Amados, se o nosso coração não nos condenar, temos confiança diante de Deus e recebemos dele tudo o que pedimos, porque obedecemos aos seus mandamentos e fazemos o que lhe agrada” (lJo 3.21,22).

Ora, esse ensino não deve ser entendido de modo errôneo. Não precisamos ser completamente livres do pecado diante de Deus para ter as nossas orações respondidas. Se Deus somente respondesse às nossas orações como pessoas sem pecado, então ninguém em toda a Bíblia, exceto Jesus, teria tido qualquer oração respondida. Quando chegamos diante de Deus por meio de sua graça, nos apresentamos limpos pelo sangue de Cristo (Rm 3.25; 5.9; Ef 2.13; Hb 9.14; lPe 1.2). Todavia, não devemos negligenciar a ênfase bíblica sobre a santidade pessoal. A oração e a vida santa andam juntas. Há muita expressão de graça na vida cristã, mas o crescimento na santidade pessoal é também o caminho para a bênção muito maior, e isso é verdade também com respeito à oração. As passagens citadas ensinam que, no mais não havendo diferenças, a obediência mais exata conduzirá à eficácia ainda maior na oração (cf. Hb 12.14; Tg 4.3,4).

4.  Confissão de pecados.
Porque a nossa obediência a Deus nunca é perfeita nesta vida, continuamente dependemos do perdão de nossos pecados. A confissão de pecados é necessária a fim de que Deus nos perdoe no sentido de restaurar diariamente o seu relacionamento conosco (v. Mt 6.12; lJo 1 .9).Quando oramos, é bom confessarmos todos os pecados conhecidos ao Senhor e pedir-lhe perdão. Quando esperamos nele, por vezes ele vai trazer à nossa mente outros pecados que precisam ser confessados. Com respeito aos pecados dos quais não nos lembramos e dos quais não estamos conscientes, é apropriado fazer a oração geral de Davi: “Absolve-me dos [erros] que desconheço” (Si 19.12).

Confessar nossos pecados a outros cristãos em quem confiamos pode trazer-nos certeza de perdão e encorajamento para vencer o pecado. Tiago relaciona a confissão mútua à oração, pois na passagem que discute a oração eficaz, ele nos encoraja: “... confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tg 5.16).

5.  Perdoando outros.
 Jesus diz: “Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas” (Mt 6.14,15). De modo semelhante, Jesus diz: “E quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial lhes perdoe os seus pecados” (Mc 11.25). Nosso Senhor não tem em mente a experiência inicial de perdão quando somos justificados pela fé, pois isso não diz respeito às orações que fazemos cada dia (Mt 6.12,14,15). Ele está se referindo antes ao relacionamento diário com Deus que precisa ser restaurado quando pecamos contra ele e o desagradamos.

Visto que a oração supõe o relacionamento com Deus como pessoa, isso não é surpreendente. Se pecamos contra ele e entristecemos o Espírito Santo (cf. Ef 4.30), e o pecado não foi perdoado, ele interrompe nosso relacionamento com Deus (cf. Is 59.1,2).Até que o pecado seja perdoado e o relacionamento seja restaurado, a oração naturalmente será difícil. Além disso, se não temos perdão em nosso coração em relação a alguém, não estamos agindo de modo agradável a Deus ou útil a nós. Assim, Deus declara (Mt 6.12,14,15) que ele se distanciará de nós até que tenhamos perdoado os outros.
6. Humildade.
Tiago nos diz que “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (Tg 4.6; tb. 1 Pe 5.5). Entretanto, ele diz: “Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará” (Tg 4. l0).A humildade é, assim, a atitude certa que se deve ter na oração a Deus, ao passo que o orgulho é totalmente impróprio.

A parábola de Jesus a respeito do fariseu e do publicano ilustra esse princípio. Quando o fariseu levantou-se para orar, foi jactancioso: “Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho” (Lc 18.11,12). O publicano, ao contrário, “nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador”’ (Lc 18.13). Jesus disse que o publicano “foi para casa justificado diante de Deus”, mas não o fariseu,”pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 18.14). Por meio dessas palavras Jesus condenou os que, ”para disfarçar, fazem longas orações” (Lc 20.47), e os hipócritas que “gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros” (Mt 6.5).

Deus é certamente zeloso de sua própria honra. Portanto, ele não se agrada em responder a orações de orgulhosos que tomam a honra para si mesmos em vez de dá-la a Deus.A verdadeira humildade perante Deus, que também será refletida em humildade genuína perante os outros, é necessária para a oração eficaz.

7. O que dizer a respeito das orações não respondidas?
Devemos começar reconhecendo que, ainda que Deus seja Deus e nós sejamos suas criaturas, deve haver orações que não são respondidas. Isso é porque Deus não nos revela seus planos sábios para o futuro e, embora as pessoas orem, muitos eventos não acontecerão até o tempo que Deus tenha decretado. Os judeus oraram durante séculos pedindo que o Messias viesse, e fizeram bem, mas foi somente “quando chegou a plenitude do tempo que “Deus enviou seu Filho” (Gl 4.4).A alma dos mártires no céu, livres do pecado, clamam para que Deus julgue a terra (Ap 6.10), mas Deus não lhes responde imediatamente; ao contrário, ele lhes diz que esperem “um pouco mais” (Ap 6.11). Fica claro que pode haver longos períodos de espera durante os quais as orações permanecem sem resposta porque as pessoas que oram não conhecem o tempo próprio de Deus.

A oração também poderá não ser respondida porque nem sempre sabemos orar como convém (Rm 8.26), nem sempre oramos de acordo com a vontade de Deus (Tg 4.3) e nem sempre pedimos com fé (Tg 1.6-8). E às vezes pensamos que uma solução é melhor, mas Deus tem um plano melhor, ainda que seja para cumprir o seu propósito por meio do sofrimento e das adversidades. Sem dúvida José orou seriamente para ser resgatado do poço e não ser levado para o cativeiro no Egito (Gn 37.23-36), mas muitos anos mais tarde ele descobriu como em todos esses eventos Deus tomou o mal planejado e “o tornou em bem” (Gn 50.20).
Quando enfrentamos o problema das orações não respondidas, temos a companhia de Jesus, que orou: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). Temos também a companhia de Paulo, que pediu ao Senhor “três vezes” para que o seu espinho na carne fosse removido, mas isso não aconteceu; ao contrário, o Senhor lhe disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.8,9). Quando a oração permanece sem resposta, devemos continuar a confiar em que “Deus age em todas as coisas para o bem” (Rm 8.28) e a lançar nossas preocupações sobre ele, sabendo que ele continuamente cuida de nós (lPe 5.7). Devemos manter na memória que ele dará força suficiente para cada dia (Dt 33.25) e que ele prometeu: “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hb 13.5; cf. Rm 8.35-39).
Devemos também continuar a orar. As vezes a resposta longamente esperada pode ser dada de modo repentino, como aconteceu com Ana após muitos anos esperando um filho (lSm 1.19,20), ou quando Simeão viu com os próprios olhos o tão esperado Messias vindo ao templo (Lc 2.25-35).
Mas há situações em que as orações permanecem sem resposta pela vida toda. Há casos em que Deus responderá às orações após a morte do crente. Em outros não, mas, mesmo assim, a fé expressa pelo crente nessas orações e suas expressões sentidas de amor por Deus e pelas pessoas ainda vão subir como um cheiro agradável diante do trono de Deus (Ap 5.8; 8.3,4), resultando em “louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado” (1 Pe 1.7).

D. Louvor e ação de graças.
Louvor e ação de graças a Deus são o elemento essencial da oração. A oração-modelo que Jesus nos deixou começa com louvor: “Santificado seja o teu nome” (Mt 6.9). Paulo diz aos filipenses: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus” (Fp 4.6), e aos colossenses: “Dediquem-se à oração, estejam alerta e sejam agradecidos” (Cl 4.2).A ação de graças, exatamente como em outro aspecto da oração, não deveria ser a expressão mecânica “muito obrigado” de nossa boca para com Deus, mas a expressão de palavras que refletem a gratidão de nosso coração. Além disso, nunca devemos pensar que agradecer a Deus pela resposta de alguma coisa que pedimos possa de alguma forma forçar Deus a nos dar o que pedimos, pois isso transforma o pedido sincero e genuíno em exigência que presume que podemos fazer Deus executar o que queremos que ele nos faça. Tal espírito em nossas orações realmente nega a natureza essencial da oração como manifestação de nossa dependência de Deus.
Ao contrário, a espécie de ação de graças que acompanha a oração de modo apropriado deve expressar gratidão a Deus em todas as circunstâncias, por cada evento da vida que ele permite que nos aconteça. Quando nossa oração é cheia de humildade, a simples ação de graças a Deus “em todas as circunstâncias” (lTs 5.18), então essa oração é aceitável a Deus.
Autor: Wayne Grudem

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