quarta-feira, 2 de outubro de 2013

graça de Deus como libertação e o combate


A graça de Deus algumas vezes é chamada libertação ou livramento, sendo que por ela somos libertados da escravidão do pecado; mas também é chamada, ora reparação do nosso ser, pela qual, sendo posto de lado o velho homem, somos restaurados à imagem de Deus; ora regeneração, pela qual somos feitos novas criaturas; ora ressurreição, pela qual Deus, fazendo com que morramos, ressucita-nos por seu poder. Todavia, aqui é preciso observar que o livramento nunca é completo, visto que uma parte de nós permanece sob o jugo do pecado; que a restauração jamais se realiza completamente, portanto muita coisa dos vestígios do homem terreno permanece; e que a ressurreição nunca é completa, pois alguma coisa retemos do velho homem. Isso porque, enquanto estamos encerrados nesta prisão que o nosso corpo é, trazemos sempre conosco as relíquias, ou seja, os restos da nossa carne, os quais na mesma proporção diminuem a nossa liberdade. Porque a alma fiel, depois da sua regeneração, divide-se em duas partes, entre as quais há uma diferença perpétua. Pois, quando é regida e governada pelo Espírito de Deus, ela deseja e ama a imortalidade, o que a incita e a induz à justiça, à pureza e à santidade, e assim não medita noutra coisa senão na bem-aventurança do reino celestial, e aspira inteiramente à companhia de Deus; e no que permanece ainda em seu natural, estando impelida pela lama terrena e envolta em más ambições, não enxerga o que de fato é desejável e onde está a verdadeira felicidade. Detida pelo pecado, mantém-se longe de Deus e da sua justiça.

O combate cristão

Daí surge um combate que põe em ação o homem fiel durante sua vida toda, sendo que pelo Espírito é elevado às alturas, e pela carne é levado a desviar-se e é derribado. Segundo o Espírito, ele se dirige cheio de ardente desejo para a imortalidade; segundo a carne, desvia-se por um caminho que leva à morte. Segundo o Espírito, ele pensa em viver retamente; segundo a carne, é atraído pela  iniqüidade. Segundo o Espírito, ele é conduzido para Deus; segundo a carne, é levado a recuar. Segundo o Espírito, ele condena o mundo; segundo a carne, cobiça os prazeres mundanos.
Não se trata aqui de uma especulação frívola, da qual não teríamos nenhuma experiência na vida, mas é uma doutrina caracterizada pala prática, que verdadeiramente experimentamos em nós, se somos filhos de Deus.

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