segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Providência Jó 38-1 a 41.34; Dn 4.34,35; At 2.22-24; Rm 11.33-36

A maior cidade de Rhode Island [um estado americano] chama-se Providência. Existe algo de extraordinário neste nome. Ele chama a nossa atenção para a grande lacuna na maneira de pensar entre as gerações passadas e a nossa sociedade atual. Quem iria chamar uma cidade de Providência, hoje em dia? A própria palavra soa arcaica e fora de moda.
Quando leio os escritos de cristãos de séculos atrás, fico surpreso com a enorme quantidade de referências à providência de Deus. É como se antes do século XX os cristãos fossem muito mais conscientes e sensíveis para com a providência de Deus em sua vida. O espírito do naturalismo, que interpreta todos os eventos na natureza como sendo governados por forças independentes, causou um impacto em nossa geração.
O significado fundamental da palavra providência é "ver antes ou com antecedência", ou "prover algo para". Com tais sentidos, a palavra fica longe de conseguir cobrir o profundo significado da doutrina da providencia, a qual significa muito mais do que Deus ser um espectador dos eventos humanos. Contém muito mais o que mera referência à providência de Deus.
A Confissão de Fé de Westminster, feita no século XVII, definida providência da seguinte maneira:
"Pela mui sábia e santa providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável conselho de sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da glória de sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as criaturas, todas as ações delas e todas as coisas, desde a maior até a menor”.(CAP VI)
Aquilo que Deus cria, ele também sustenta. O universo não só depende de Deus para sua origem, mas depende dele também para continuar existindo. O universo não pode existir nem operar por seu próprio poder. Deus sustente todas as coisas por seu poder. Nele nós vivemos, nos movemos existimos.
O ponto central da doutrina da providência é a ênfase no governo de Deus sobre o universo. Ele governa sua criação com absoluta soberania e autoridade. Ele governa aquilo que acontece, desde os maiores eventos até os menores. Nada jamais acontece além do âmbito do seu governo soberana e providencial. Ele faz a chuva cair e o sol brilhar. Levanta e derruba reinos. Ele conta os cabelos da nossa cabeça e os dias da nossa vida.
Existe uma diferença fundamental entre a providência de Deus e fortuna[aquilo que sucede por acaso], destino ou sorte. A chave para esta diferença está no caráter pessoal de Deus. A fortuna é cega, enquanto Deus vê todas as coisas. O destino é impessoal enquanto Deus é nosso Pai. A sorte é muda enquanto Deus pode falar. Não existem forças cegas e impessoais na história humana. Tudo se passa por meio de mão invisível da providência de Deus.
Num universo governado por Deus não existem eventos casuais. De fato, não existe algo como acaso. O acaso não existe. Não passa de uma palavra que usamos para descrever possibilidades matemáticas, mas que não tem nenhum poder em si, porque não tem existência. O acaso não é uma entidade capaz de influenciar a realidade. Acaso não é algo real. Não é nada.
Outro aspecto da providência chama-se concorrência. Concorrência refere-se às ações conjuntas de deus e seres humanos. Mesmo assim, o poder causal que exercemos é secundário. A soberana providência de Deus está acima e além das nossa ações. Ele opera sua vontade por meio das ações da vontade humana, sem violar a liberdade dessa vontade humana. O exemplo mais claro de concorrência encontrado nas Escrituras é o caso de  José e seus irmãos. Apesar de os irmãos de José serem verdadeiramente culpados pela traição que fizeram contra ele, a providência de Deus estava operando até mesmo através do pecado deles. José disse aos irmãos: "Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida." (Gn 50.20).
A providência redentora de Deus pode operar através das ações mais diabólicas. A pior ofensa que já foi cometida por um ser humano foi a traição de Jesus Cristo por Judas Iscariotes. Mesmo assim, a morte de Cristo não foi um acidente na História. Aconteceu de acordo com o conselho determinado por Deus. O ato de perversidade de Judas ajudou a promover a melhor coisa que já aconteceu na História, a Expiação. Não é fortuito quando nos referimos àquele dia histórico com sexta-feira "santa".
Sumário
1. O conceito da providência divina geralmente não é entendido em nossos dias.
2. A providência inclui a obra de Deus em sustentar sua criação.
3. A providência se refere  principalmente ao governo de Deus sobre a criação.
4. À luz da providência divina, não existem forças impessoais tais como fortuna, destino ou acaso.
5. A providência inclui a concorrência, por meio da qual Deus opera sua vontade divina por intermédio da vontade de suas criaturas.
Autor:  R. C. Sproul

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