quinta-feira, 18 de julho de 2013

A ceia do Senhor

Nota: AT = Antigo Testamento; NT= Novo Testamento; ES = Espírito Santo.
Qual é o significado da ceia do Senhor? Como ela deve ser realizada?
 1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA
O Senhor Jesus instituiu duas ordenanças (ou sacramentos) para serem observados pela igreja. O capítulo anterior discutiu o batismo, ordenança que é observada somente uma vez como sinal do começo da vida cristã de uma pessoa. Este capítulo vai dissertar sobre a ceia do Senhor, ordenança que deve ser observada repetidamente ao Longo de toda a nossa vida cristã como sinal de continuidade na comunhão com Cristo.   A. Comer na presença de Deus: uma bênção especial por toda a Bíblia Jesus instituiu a ceia do Senhor do seguinte modo:   Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo:
“Tomem e comam; isto é o meu corpo”. Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: ”Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai” (Mt 26.26-29)
Paulo acrescenta as seguintes frases da tradição que recebeu (lCo 11.23): “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso, sempre que o beberem em memória de mim” (1 Co 11.25)
Há alguns antecedentes dessa cerimônia no AT? Parece que há, pois houve exemplos de comer e de beber na presença de Deus na antiga aliança também. Por exemplo, quando o povo de Israel estava acampado diante do Monte Sinai, exatamente após Deus ter dado os Dez Mandamentos, Deus chamou os líderes de Israel para subirem à montanha a fim de se encontrarem com ele:
“Moisés, Arão, Nadabe, Abiú e setenta autoridades de Israel subiram e viram o Deus de Israel [...] eles viram a Deus, e depois comeram e beberam” (Êx 24.9,11).
Além disso, cada ano o povo de Israel devia dizimar (dar o dízimo) de todas as suas colheitas. Então a lei de Moisés especificava: “Cotam o dízimo do cereal, do vinho novo e do azeite, e a primeira cria de todos os seus rebanhos na presença do SENHOR, o seu Deus, no local que ele escolher como habitação do seu Nome, para que aprendam a temer sempre o Senhor, o seu Deus. [...] Então juntamente com suas famílias comam e alegrem- se ali, na presença do SENHOR, o seu Deus” (Dt 14.23,26).
Porém mesmo antes disso Deus havia colocado Adão e Eva no jardim do Éden e lhes havia dado tudo de sua abundância para comer (exceto o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal). Desde que não havia nenhum pecado naquela época e como Deus os
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tinha criado para companheirismo com ele mesmo e para sua própria glória, cada comida que Adão e Eva comiam deve ter sido uma refeição festiva na presença do Senhor.
Quando essa comunhão na presença de Deus foi quebrada posteriormente pelo pecado, Deus ainda permitiu que algumas refeições (como o dízimo dos frutos mencionados anteriormente) fossem feitas em sua presença. Essas refeições eram uma restauração parcial da comunhão com Deus que Adão e Eva desfrutaram antes da queda, muito embora ela fosse deteriorada pelo pecado. Mas a comunhão do comer na presença do Senhor que encontramos na ceia do Senhor é muito melhor. As comidas sacrificais no AT apontavam continuamente para o fato de que os pecados não haviam sido pagos ainda, porque os sacrifícios eram repetidos ano após ano e porque eles olhavam para o Messias que estava por vir para lhes retirar os pecados (v. Hb l0.1-4). A ceia do Senhor, contudo, nos lembra do pagamento completo que Jesus já fez por nossos pecados, de forma que podemos agora comer na presença do Senhor com grande regozijo.
Todavia, mesmo a ceia do Senhor anseia pela refeição comunitária ainda mais maravilhosa na presença do Senhor no tempo futuro, quando a comunhão do Éden será restaurada e haverá alegria muito maior, porque os que comerem na presença do Senhor serão pecadores perdoados confirmados em justiça, capazes de nunca mais pecar. O tempo futuro desse comer na presença de Deus é sugerido por Jesus quando ele diz: “Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai (Mt 26.29). Apocalipse nos fala mais explicitamente a respeito da ceia das bodas do Cordeiro: “E o anjo me disse: ‘Escreva: Felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro!’ E acrescentou: ‘Estas são as palavras verdadeiras de Deus” (Ap 19.9). Esse será um tempo de grande regozijo na presença do Senhor, assim como será um tempo de reverência e de temor diante dele.
Do Gênesis ao Apocalipse, portanto, o alvo de Deus tem sido levar seu povo à comunhão com ele, e uma das grandes alegrias de experimentar essa comunhão é o fato de que podemos comer e beber na presença do Senhor. Seria saudável para a igreja hoje reconquistar um senso mais vívido da presença de Deus na mesa do Senhor.
B. O significado da ceia do Senhor
O significado da ceia do Senhor é complexo, rico e amplo. Há diversos símbolos afirmados na ceia do Senhor.
1. A morte de Cristo.
Quando participamos da ceia do Senhor, simbolizamos a morte de Cristo, porque nossas ações delineiam um quadro de sua morte por nós. Quando o pão é partido, simboliza o partir do corpo de Cristo; e quando o conteúdo do cálice é derramado, simboliza o sangue de Cristo vertido por nós. Essa é a razão pela qual a participação na ceia do Senhor é também uma espécie de proclamação: “Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha” (lCo 11.26).
2. Nossa participação nos benefícios da morte de Cristo.
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Jesus ordenou aos discípulos: Tomem e comam; isto é o meu corpo” (Mt 26.26). Quando individualmente tomamos o cálice, um de nós está, por meio dessa ação, proclamando: “Estou me apropriando dos benefícios da morte de Cristo”. Quando fazemos isso, estamos fornecendo um símbolo do fato de que participamos ou partilhamos dos benefícios obtidos pela morte de Cristo por nos.
3. Nutrição espiritual.
Do mesmo modo que a comida comum nutre o corpo, assim o pão e o vinho da ceia do Senhor nos trazem nutrição. Mas eles também ilustram o fato de que há alimento e uma refeição espiritual que Cristo dá à nossa alma — de fato, a cerimônia que Jesus instituiu é, em sua verdadeira natureza, designada para nos ensinar isso. Jesus disse: “Se vocês comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa” (Jo 6.53- 57).
Certamente Jesus não está falando de comer literalmente sua carne e seu sangue. Mas, se não de comer e beber literalmente, então ele deve ter em mente uma participação espiritual nos benefícios da redenção que adquiriu para nós. Essa nutrição espiritual, tão necessária para a alma é tanto simbolizada como experimentada em nossa participação na ceia do Senhor.
4. A unidade dos crentes.
Quando os cristãos participam juntos da ceia do Senhor, também dão um sinal claro de sua unidade um com o outro. De fato, Paulo diz: “Como há somente um pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois todos participamos de um único pão” (1 Co 10.17).
Quando colocamos essas quatro coisas juntas, começamos a perceber alguns dos significados mais ricos da ceia do Senhor. Quando participo, venho à presença de Cristo, lembro que ele morreu por mim, participo dos benefícios de sua morte, recebo nutrição espiritual e me sinto unido com todos os outros crentes que participam dessa ceia. Que grande motivo de ação de graças e alegria deve ser achado nessa ceia do Senhor!
Mas além dessas verdades visivelmente ilustradas pela ceia do Senhor, o fato de que Cristo instituiu essa cerimônia para nós significa que por meio dela ele está também nos prometendo ou afirmando certas coisas. Quando participamos da ceia do Senhor, devemos nos lembrar repetidamente de duas afirmações que Cristo está nos fazendo.
5. Cristo afirma seu amor por mim.
O fato de que sou capaz de participar da ceia do Senhor - na verdade, Jesus me convida a vir — é um lembrete vivido e um sinal visível e seguro de que Jesus me ama individual e pessoalmente. Quando venho participar da ceia do Senhor, encontro desse modo uma certeza renovada do amor pessoal de Cristo por mim.
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6. Cristo afirma que todas as bênçãos da salvação estão reservadas para mim.
Quando o convite de Cristo para participar da ceia do Senhor, o fato de que sou convidado à sua presença me assegura de que ele tem bênçãos abundantes para mim. Nessa ceia, estou realmente comendo e bebendo um antepasto do grande banquete do Rei. Venho a essa mesa como membro de sua família eterna. Quando o Senhor me dá boas-vindas a essa mesa, ele me assegura que me receberá com todas as demais bênçãos da terra e do céu, e especialmente para a grande ceia das bodas do Cordeiro, na qual um lugar foi reservado para mim.
7. Eu afirmo a minha fé em Cristo.
Finalmente, enquanto como o pão e bebo o cálice, com essas ações estou proclamando: “Preciso de ti e confio em ti, Senhor Jesus, para perdoar os meus pecados e dar vida e saúde para a minha alma, porque somente pelo teu corpo partido e pelo teu sangue vertido eu posso ser salvo”. De fato, quando participo do partir do pão e o como e quando participo do verter do sangue e o bebo, proclamo repetidamente que os meus pecados foram parte da causa dos sofrimentos e morte de Jesus. Desse modo a tristeza, a alegria, a ação de graças e o profundo amor por Cristo são ricamente misturados na beleza da ceia do Senhor.
C. Como Cristo está presente na ceia do Senhor?
1. Posição católica romana: transubstanciação.  De acordo com o ensino da Igreja Católica Romana, na eucaristia o pão e o vinho realmente se tornam o corpo e o sangue de Cristo. Isso acontece no momento em que o sacerdote diz “isto é o meu corpo, durante a celebração da missa. Ao mesmo tempo em que o sacerdote diz isso, o pão é elevado e adorado. Essa ação de elevar o pão e pronunciá-lo como o corpo de Cristo pode unicamente ser feita por um sacerdote. Quando isso acontece, de acordo com o ensino católico romano, a graça é comunicada aos presentes ex opere operato, a saber, ”pela obra representada”, mas a quantidade de graça dispensada é proporcional à disposição subjetiva do destinatário da graça. Além disso, cada vez que a missa é celebrada, o sacrifício de Cristo é repetido (em algum sentido), e a Igreja Católica Romana é zelosa em afirmar que tal sacrifício é real, ainda que não seja o mesmo sacrifício que Cristo efetuou na cruz.
Com respeito ao sacrifício real de Cristo na missa, a obra de Ludwig Ott, Fundamentals of catholic dogma, ensina o seguinte:   A santa missa é um sacrifício apropriado e verdadeiro (p. 402).
O propósito do sacrifício é o mesmo tanto no sacrifício da missa como no sacrifício da cruz; primariamente a glorificação de Deus, secundariamente a expiação, ação de graças e apelo (p. 408).
Como um sacrifício propiciatório [...] o sacrifício da missa efetua a remissão de pecados e a punição pelos pecados; como um sacrifício de apelo [...] produz a concessão de dons naturais e sobrenaturais. O sacrifício de propiciação da eucaristia pode ser oferecido, como
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o Concílio de Trento expressamente asseverou, não meramente para os vivos, mas também para as pobres almas no purgatório (p. 412-3).
[A palavra eucaristia significa simplesmente a ceia do Senhor. Ela é derivada da palavra grega (eucharistia), “ação de graças”. O termo eucaristia é muitas vezes usado também pelos anglicanos (episcopais). Entre muitas igrejas protestantes o termo mais usado para referir-se à ceia do Senhor é comunhão. [No Brasil, a designação protestante mais comum é santa]
Em resposta ao ensino da Igreja Católica Romana sobre a ceia do Senhor, deve ser dito primeiramente que ele falha em reconhecer o caráter simbólico das afirmações de Jesus quando declarou “isto é o meu corpo , ou isto é o meu sangue”. Jesus falou de modo simbólico muitas vezes quando se referiu a si mesmo. Ele disse, por exemplo: “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15.1), ou “Eu sou a porta; quem entra por mim, será salvo” (Jo 10.9), ou “Eu sou o pão que desceu do céu” (Jo 6.4 1). De modo similar, quando Jesus diz “isto é o meu corpo”, ele está falando de modo simbólico, não de modo literal, físico. De fato, quando ele estava junto aos discípulos segurando o pão, o pão estava na sua mão, mas esse pão era distinto do seu corpo, e isso, é claro, era evidente para os discípulos. Eles naturalmente teriam entendido a afirmação de Jesus de modo simbólico. Semelhantemente, quando Jesus disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês” (Lc 22.20), ele certamente não quis dizer que o cálice era realmente uma nova aliança, mas que o cálice representava a nova aliança.
Ademais, a posição católica romana falha em reconhecer o ensino claro do NT sobre a finalidade e a perfeição do sacrifício de Cristo feito uma única vez pelos nossos pecados. O livro de Hebreus enfatiza isso muitas vezes, quando diz: ”Pois Cristo [...] entrou nos céus [...] não, porém, para se oferecer repetidas vezes, à semelhança do sumo sacerdote que entra no Santo dos Santos todos os anos, com sangue alheio. Se assim fosse, Cristo precisaria sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo. Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo, assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam” (Hb 9.24-28). Dizer que o sacrifício de Cristo continua ou é repetido na missa tem sido, desde a Reforma, uma das doutrinas católicas mais questionáveis de acordo com a perspectiva protestante. Quando percebemos que o sacrifício de Cristo pelos nossos pecados está terminado e completo (“Está consumado”, Jo 19.30; cf. Hb 1.3), isso nos dá a grande certeza de que os nossos pecados foram todos pagos e que não permanece nenhum sacrifício a ser pago. Mas a idéia da continuação do sacrifício de Cristo destrói a segurança de que o pagamento foi feito por Cristo, aceito por Deus Pai e de que “já não há condenação” (Rm 8.1) sobre nós.
2. Posição luterana:  “em, com e sob”. Martinho Lutero rejeitou a posição católica sobre a ceia do Senhor, todavia insistiu em que a frase “isto é o meu corpo” tinha de ser tomada em algum sentido como afirmação literal. Sua conclusão não foi que o pão realmente se transforma no corpo físico de Cristo, mas que o corpo físico de Cristo está presente “em, com e sob” o pão da ceia do Senhor. Os elementos não são transformados em corpo e sangue de Cristo, mas estes estão presentes com os elementos. O exemplo algumas vezes sugerido é dizer que o corpo de Cristo está presente no pão como a água está presente em uma esponja — a
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água não é a esponja, mas está presente “em, com e sob” a esponja, e está presente onde quer que a esponja esteja. outros exemplos dados são o do magnetismo no magneto ou o da alma no corpo. Uma passagem que pode ser usada para dar apoio a essa posição é lCoríntios 10.16: “Não é verdade que [...] o pão que partimos é uma participação no corpo de Cristo?”.
Em resposta à posição luterana pode ser dito que ela também falha em perceber que Jesus está falando de uma realidade espiritual, más usando objetos físicos para ensinar- nos, quando trata da expressão “isto é o meu corpo”. Devemos tomá-la não mais literalmente que tomamos a frase correspondente: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês” (Lc 22.20). De fato, Lutero realmente não faz justiça às palavras de Jesus em um sentido literal. Berkhof corretamente objeta que Lutero de fato faz com que as palavras de Jesus signifiquem “isto acompanha o meu corpo”. Sobre esse assunto ajudaria ler novamente João 6.27-59, onde o contexto mostra que Jesus está falando em termos literais e físicos sobre o pão, mas o está explicando continuamente em termo; de realidade espiritual.
3. O restante do protestantismo:  presença simbólica e espiritual de Cristo. Diferentemente de Martinho Lutero, João Calvino e outros reformadores argumentaram que o pão e o vinho da ceia do Senhor não se transformaram em corpo e sangue de Cristo, nem de algum modo contêm o corpo e o sangue de Cristo. Ao contrário, o pão e o vinho simbolizavam o corpo e o sangue de Cristo e deram um sinal visível do fato de que o próprio Cristo estava verdadeiramente presente. Calvino disse:   Confesso, naturalmente, que a [fração] do pão é um símbolo, não a própria cousa. Mas, isto posto, concluiremos corretamente que pela exibição do símbolo, no entanto, a própria cousa é exibida, Pois, a menos que haja alguém de querer chamar a Deus enganador, nunca ouse dizer ser por Ele proposto um símbolo [vazio]. [...] E aos pios esta regra é absolutamente de suster-se: que vezes quantas vêem os símbolos instituídos pelo Senhor, aí cogitem e se persuadam por certo estar presente a verdade da cousa representada. Pois, a que propósito à mão te estenda o Senhor o símbolo de Seu corpo, senão para que mais certo te faça de sua verdadeira participação?   Todavia, Calvino foi cuidadoso em diferir tanto do ensino católico romano (que dizia que o pão se tornava o corpo de Cristo) como do ensino luterano (que dizia que o pão continha o corpo de Cristo).
...Porém, nos importa na Ceia tal presença de Cristo [estabelecer] que [...] nem O afixe ao elemento do pão, nem no pão [O] encerre, nem de qualquer modo [O] circunscreva, [cousas estas] todas que manifesto é derrogarem-1he à celeste glória...
Hoje a maioria dos protestantes diria, em adição ao fato de que o pão e o vinho simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, que Cristo está também presente espiritualmente de modo especial quando participamos do pão e do vinho. De fato, Jesus prometeu estar presente onde quer que os crentes adorassem: “Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mt 18.20). E se ele está especialmente presente quando os cristãos se reúnem para adorar, então devemos esperar que ele estará presente de modo especial na ceia do Senhor. Nós o encontramos na sua mesa, à qual ele vem para dar-se a si mesmo a nós. À medida que recebemos os elementos do pão e do vinho na presença de
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Cristo, assim participamos dele e de todos os seus benefícios. Nós nos “alimentamos dele em nosso coração” com ação de graças. De fato, mesmo uma criança que conhece Cristo vai entender isso sem que lhe seja dito e vai esperar receber uma bênção especial do Senhor durante a cerimônia, porque o significado dela está bastante implícito nas simples ações de comer e beber. Todavia, não devemos dizer que Cristo está presente independentemente de nossa fé pessoal, mas somente nos encontra e nos abençoa de acordo com a nossa fé nele.
De que modo, então, Cristo está presente? Certamente há uma presença simbólica de Cristo, mas ela é também uma presença espiritual genuína e há bênção espiritual genuína nessa cerimônia.
D. Quem deve participar na ceia do Senhor?
A despeito das diferenças sobre alguns aspectos da ceia do Senhor, a maioria dos protestantes haverá de concordar, primeiro, que somente os que crêem em Cristo devem participar dela, porque ela é um sina de que a pessoa é cristã e continua firme na vida cristã. Paulo adverte que quem come e bebe indignamente enfrenta conseqüências sérias: “Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram” (1 Co 11. 29,30).
A segunda qualificação para a participação na ceia é o auto-exame: “Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se cada um a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação”(lCo 11.27-29). No contexto de lCoríntios 11, Paulo repreende os coríntios por seu egoísmo e conduta irrefletida quando eles se reuniam como igreja: “Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor, porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros.Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga” (1 Co 11.20,21). Isso nos ajuda a entender o que Paulo quer dizer quando fala a respeito daqueles que comem e bebem “sem discernir o corpo” (lCo 11.29). O problema em Corinto não era uma falha em entender que o pão e o cálice representavam o corpo e o sangue do Senhor —eles certamente sabiam disso. Ao contrário, o problema era o egoísmo deles, a conduta irrefletida que uma pessoa tinha para com a outra enquanto estavam diante da mesa do Senhor. Eles não estavam entendendo ou “discernindo” a verdadeira natureza da igreja como corpo. Essa interpretação de “sem discernir o corpo” é apoiada pela menção que Paulo faz da igreja como o corpo de Cristo exatamente um pouco antes, em lCoríntios 10.17: “Como há somente um pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois todos participamos de um único pão”. Assim, a frase “sem discernir o corpo” significa “o não entendimento da unidade e interdependência das pessoas na igreja, que é o corpo de Cristo”. Significa negligenciar nossos irmãos e irmãs quando vamos à ceia do Senhor, diante da qual devemos refletir o caráter dele.
O que significa, então, comer ou beber “indignamente” (1Co 11.27)? A princípio podemos pensar que essa palavra se aplica estritamente e diz respeito apenas ao modo como nos conduzimos quando realmente comemos e bebemos o pão e o vinho. Mas quando Paulo explica que a participação indigna envolve “não discernir o corpo”, ele está dizendo que devemos refletir sobre todos os nossos relacionamentos dentro do corpo de Cristo: Estamos agindo de um modo pelo qual retratamos vividamente não a unidade de um pão e
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de um corpo, mas desunião? Estamos nos conduzindo deforma a proclamar não o sacrifício da auto-entrega ao Senhor, mas a inimizade e o egoísmo? Em um sentido mais amplo, então, “examine-se cada um a si mesmo” significa que devemos perguntar se os nossos relacionamentos no corpo de Cristo estão de fato refletindo o caráter do Senhor com quem nos encontramos na ceia e a quem representamos.
Com relação a isso, o ensino de Jesus a respeito de vir para adorar também deveria geralmente ser mencionado: “Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta” (Mt 5.23,24). Jesus aqui nos diz que onde quer que venhamos a adorar devemos estar certos de que os nossos relacionamentos com os outros estão corretos e. se não estão, devemos agir rapidamente para corrigi-los e, então, vir para adorar a Deus. Essa admoestação deveria ser especialmente verdadeira quando nos apresentamos para a ceia do Senhor.   E. Outras interrogações
Quem deve administrar a ceia do Senhor? A Escritura não traz nenhum ensino explícito sobre essa matéria, de forma que somos encarregados de decidir de forma sábia e apropriada para o benefício dos crentes na igreja. Para guardar-se do abuso da ceia do Senhor, um líder responsável deve assumir o encargo de administrá-la, mas não parece que a Escritura requeira que somente os ministros ordenados ou os oficiais escolhidos pela igreja possam fazer isso. Em situações normais é natural que o pastor ou outro líder que em geral dirige os cultos de adoração da igreja oficie a cerimônia da comunhão. Certas igrejas podem sentir igualmente que a função de liderança da igreja está tão claramente ligada à distribuição dos elementos que preferem manter essa restrição na prática da cerimônia. Mas, fora isso, parece não haver razão alguma para que somente os oficiais ou somente líderes ou somente homens possam distribuir os elementos. Não haveria a demonstração muito mais clara da nossa unidade e igualdade espiritual em Cristo se tanto homens como mulheres, por exemplo, servissem na distribuição dos elementos da ceia do Senhor?
Com que freqüência a ceia do Senhor deve ser celebrada? A Escritura não nos diz nada a respeito disso. Jesus simplesmente disse: “sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice.’ (lCo 1 l.26).A orientação de Paulo aqui com respeito ao culto deveria também ser levada em consideração: “Tudo seja feito para a edificação da igreja” (lCo 14.26). Na realidade, tem sido a prática da maioria da igreja através de toda sua história celebrar a ceia do Senhor semanalmente, quando os crentes se reuniam. Contudo, em muitos grupos protestantes desde a Reforma tem havido uma celebração menos freqüente da ceia do Senhor — normalmente uma vez por mês ou duas vezes, ou, em muitas igrejas reformadas, somente quatro vezes por ano. Se a ceia do Senhor for planejada, explicada e levada a efeito de tal modo que seja um tempo de auto-exame, de confissão, de ação de graças e de louvor, então não parece que celebrá-la uma vez por semana seja um exagero, e certamente ela poderia ser observada de forma mais freqüente “para a edificação da igreja”.
Autor: Wayne Grudem

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